Lucas 10
Luqas
Após isto, ordenou o Mestre outros setenta, e enviou-os adiante de si, de dois em dois, a todas as cidades e lugares aonde Ele próprio havia de encaminhar-se.
2E assim lhes falava: Em verdade vos digo, vasta é a seara, mas mui escassos são os obreiros; orai, pois, ao Senhor da seara, para que envie operários à sua messe, a fim de que a colheita não se perca.
3Ide, pois; envio-vos como cordeiros em meio a lobos. [Is 11.6] Eis que vos mando, qual ovelhas frágeis entre feras vorazes, para que, com mansidão e prudência, enfrenteis os perigos que vos cercam.
4Não leveis vós bolsa, nem alforje, nem sandálias; e a ninguém saudeis no decorrer do caminho.
5Em qualquer habitação a que vós adentrardes, dizei primeiramente, com voz solene: Paz seja com esta morada [Nm 6.26].
6E, se ali se achar um filho da paz, sobre ele repousará a vossa paz; se, todavia, tal não se der, a vós ser-vos-á restituída.
7Permanecei vós nessa morada, sustentando-vos e sorvendo do que vos for apresentado, porquanto justo é o trabalhador de seu galardão [Lv 19.13]. Não vagueis de lar em lar.
8Outrossim, em qualquer urbe a que adentrardes, e onde vos houverem de acolher, alimentai-vos daquilo que perante vós for servido.
9Curai os enfermos que nela se encontrarem, e dizei-lhes: Eis que ser-vos-á chegado o reino do Altíssimo [Dn 7.22].
10Eis, todavia, que em qualquer cidade a que vós adentrardes, e não vos for dado acolhimento, ao apartar-vos por suas vias, proclamai com firmeza:
11Até o pó de vossa cidade, que aos nossos pés se aderiu, sacudimos contra vós. Não obstante, sabei vós, que credes, que o reino do Altíssimo se vos acha próximo [Dn 2.44].
12Proclamo-vos, com solenidade, que, naquele dia derradeiro, menos severo há de ser o julgamento para Sodoma do que para aquela cidade [Gn 19.24-25].
13Ai de vós, Corazim! Ai de vós, Betsaida! Pois, se em Tiro e em Sidom houvessem sido obrados os prodígios que entre vós se fizeram, há muito que, em demonstração de penitência, se teriam contristado, envoltos em pano de saco e cobertos de cinzas [Jn 3.6].
14Contudo, no Dia do Juízo, ser-vos-á menos severo o julgamento de Tiro e Sidom do que aquele que vos está destinado [Is 23.1-18].
15E vós, ó Kafar-Nachum, que vos ergueis até aos céus, sereis-vos lançados ao mais profundo abismo. [Is 14.13-15]
16Aquele que a vós escuta, a mim me ouve; e aquele que vós repudiais, a mim me rejeita [Dt 18.15-19]; e quem me rejeita, repudia Aquele que me enviou.
17Voltaram, pois, os setenta com imenso regozijo, proclamando: Ó Mestre, até mesmo os próprios espíritos malignos se nos submetem em teu santo nome!
18E ele, dirigindo-se a eles, assim falou: "Contemplei Satan tombar dos céus, semelhante a um relâmpago que fende as alturas. [Is 14.12]"
19Concedi-vos a autoridade para que calqueis serpentes e escorpiões, e domineis todo o poder do inimigo [Sl 91.13]; e, em verdade, nada vos haverá de causar prejuízo.
20Contudo, não vos regozijeis por sujeitardes os espíritos; antes, exultai por terem vossos nomes gravados nos céus [Dn 12.1].
21Naquela mesma hora, rejubilou-se Yeshua em espírito e exclamou com fervor: "Agradeço-Te, ó Pai, Soberano dos céus e da terra, por haveres velado estas verdades aos sábios e aos doutos, e por as teres desvelado aos simples de coração. Sim, ó Pai, pois assim foi do Teu beneplácito."
22Todas as coisas me foram entregues por meu Pai; e ninguém conhece quem seja o Filho, senão o Pai, nem quem seja o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho houver por bem revelar-lho.
23E, volvendo-se para os discípulos, dirigiu-lhes, em particular, estas palavras: Bem-aventurados sejam os olhos que enxergam o que vós, com tanta clemência, enxergais. [Is 6.9]
24Declaro-vos, pois, que muitos profetas e soberanos ardentemente desejaram contemplar aquilo que vós, com vossos olhos, vedes, e não o contemplaram; e escutar aquilo que vós, com vossos ouvidos, ouvis, e não o escutaram [Is 64.4].
25E eis que se levantou um certo doutor da Torá, e, com o propósito de o submeter a escrutínio, assim se expressou: Mestre, que me é necessário fazer para obter a vida eterna? [Lv 18.5]
26Perguntou-lhe Yeshua: Que está escrito na Toráh? [Dt 6.4] Como vós o interpretais?
27E ele, em resposta, assim falou: “Hás de amar a Yah יְהוָה, teu Elohim, com a inteireza de teu coração, com a totalidade de tua alma, com todas as tuas forças e com a plenitude de teu entendimento; e ao teu próximo, como a ti mesmo o fazes. [Dt 6.5]”
28Disse-lhe Yeshua: "Respondeste com justeza; faze-o, e ser-te-á concedida a vida [Lv 18.5]."
29Ele, contudo, almejando justificar-se perante os outros, interrogou a Yeshua com estas palavras: "E quem, pois, ser-me-á o meu próximo? [Lv 19.18]"
30Yeshua, continuando em sua exposição, assim proclamou: Um homem, ao descer de Yerushalaim a Yeriho, foi surpreendido por salteadores, os quais, despojando-o de todos os seus haveres, infligiram-lhe severos tormentos e, por fim, apartaram-se, deixando-o à mercê da morte, em condição de suma aflição, à beira do caminho.
31Porventura, descia por aquele mesmo caminho um certo cohen; e, vendo-o em sua aflição, passou ao largo, sem lhe prestar socorro.
32De igual modo, um levita, ao aproximar-se daquele lugar, lançou-lhe o olhar e, sem se demorar, seguiu seu caminho.
33Um samaritano, todavia, que porventura caminhava em sua jornada, aproximou-se dele e, ao contemplá-lo, compadeceu-se em seu coração com profunda misericórdia. Eis que, movido por tamanha piedade, não pôde conter a comiseração que lhe inundava a alma.
34E, aproximando-se dele, tratou-lhe as feridas, vertendo sobre elas azeite e vinho; e, colocando-o sobre sua própria montaria, levou-o a uma hospedaria, onde, com diligência, dele cuidou.
35No dia seguinte, tomou dois denários, entregou-os ao hospedeiro e pronunciou estas palavras: “Cuida deste homem; e tudo o que gastares além disto, ser-te-á ressarcido por mim, quando houver de regressar.”
36Qual destes três vos parece haver sido o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores? [Lv 19.18]
37Respondeu o doutor da Lei: Aquele que houve por bem mostrar misericórdia para com ele. Disse Yeshua: Vai, pois, e faze vós o mesmo.
38Ao seguirem pelo caminho, adentrou Yeshua uma aldeia; e uma certa mulher, de nome Marta, acolheu-o em sua residência com singular hospitalidade.
39Possuía esta uma irmã, cujo nome era Miriam, a qual, postrando-se aos pés do Mestre, ouvia com reverência a sua palavra.
40Marta, porém, encontrava-se aflita com a multiplicidade de tarefas que a ocupavam; e, aproximando-se do Mestre, assim lhe dirigiu a palavra: "Senhor, não vos é de alguma monta que minha irmã me tenha deixado a laborar sozinha? Mandai-lhe, pois, que me preste auxílio."
41Respondeu o Mestre: Marta, Marta, estais vós inquieta e atormentada por inúmeras questões;
42Entrementes, poucas coisas se fazem necessárias, ou quiçá uma só; e Miriam escolheu a melhor parte, a qual não lhe será tirada.