Lucas 12
Luqas
Congregando-se, pois, uma vasta multidão de pessoas, em tal número que umas às outras se comprimiam, iniciou Yeshua a dirigir suas palavras, em primeiro lugar, aos seus discípulos, proclamando: "Acautelai-vos do fermento dos parushim, que não é senão a hipocrisia."
2Nada, contudo, há de encoberto que não se venha a revelar; nem oculto que não se torne, em tempo devido, conhecido. [Pv 25.2]
3Uma vez que tudo aquilo que, nas trevas, houverdes pronunciado, à luz ser-vos-á ouvido; e o que, em segredo, no recôndito dos aposentos, ao ouvido tiverdes murmurado, dos altos telhados será, com voz altissonante, proclamado.
4Declaro-vos, ó vós, meus dilectos amigos: Não temei aqueles que arrebatam a vida do corpo, pois, uma vez consumado tal acto, nada mais lhes é permitido fazer. [Is 8.12]
5Eis que vos revelo a quem deveis temer: receai aquele que, após haver ceifado a vida, detém o poder de lançar-vos ao abismo dos mortos; sim, afirmo-vos, a esse é que se faz necessário temerdes com toda a vossa alma.
6Não se vendem, porventura, cinco passarinhos por dois asses? E nenhum deles se acha esquecido diante de Elohim. [Sl 50.11]
7Contudo, até mesmo os cabelos de vossa cabeça se encontram todos numerados. [1Sm 14.45] Não vos atemorizeis, pois sois vós de maior valia do que muitos passarinhos.
8Declaro-vos, pois, com solenidade, que todo aquele que, diante dos homens, me houver confessado, igualmente o Filho do Homem o confessará perante os mensageiros de Elohim [Dn 7.13].
9Aquele que, diante dos homens, me houver de renegar, ser-lhe-á, por sua vez, negado perante os mensageiros de Elohim. [Dt 32.6]
10A todo aquele que proferir uma palavra contra o Filho do Homem, ser-vos-á concedido o perdão; porém, àquele que ousar blasfemar contra o Ruach do Santo, não lhe será outorgada a remissão de tal pecado.
11Quando vos levarem às sinagogas, perante os magistrados e as autoridades, não vos aflijais com o modo como haveis de defender-vos, nem com o que sereis obrigados a proferir. Pois, em verdade, não vos será necessário premeditar vossa fala, e o que houverdes de dizer ser-vos-á inspirado no momento oportuno.
12Eis que o Ruach do Santo vos haverá de instruir, naquela mesma hora, acerca do que vos convém proferir.
13Eis que um dentre a turba, elevando a voz, assim falou: Mestre, ordenai a meu irmão que comigo partilhe a herança que nos cabe.
14Eis, pois, que Ele lhe respondeu com gravidade: Ó homem, quem me constituiu juiz ou árbitro entre vós?
15E proclamou à multidão: Guardai-vos e precatai-vos contra toda forma de cobiça; pois, em verdade, a vida do homem não se alicerça na profusão dos bens que lhe são próprios.
16Eis que lhes propôs, pois, uma parábola, dizendo: O campo de um homem opulento produziu com mui grande abundância;
17E ele, em seu íntimo, consigo mesmo ponderava, dizendo: Que farei eu? Porquanto não tenho onde recolher os meus frutos.
18Disse, pois, consigo mesmo: Assim procederei: derrubarei os meus celeiros e edificarei outros de maior amplitude, nos quais congregarei todos os meus grãos e os meus bens;
19E assim direi à minha nefesh: Ó Nefesh, tens em teu haver copiosos bens, suficientes para muitos anos; descansa, pois, alimenta-te, bebe e regozija-te. [Ec 8.15]
20Eis que Elohim, em sua sabedoria infinita, assim lhe falou: "Ó insensato, nesta mesma noite te será reclamada a tua nefesh; e tudo aquilo que ajuntaste com tanto afã, a quem será destinado? [Sl 39.6]"
21Assim é aqueloutro que, para si próprio, amontoa riquezas e não se revela opulento em sua devoção a Elohim.
22E dirigiu a palavra aos seus discípulos, proclamando: Por esta razão vos declaro: Não vos atormenteis pela vossa existência, no que tange ao que haveis de consumir, nem pelo vosso corpo, no que concerne ao que haveis de trajar. [Mt 6.25]
23Porquanto a vida sobrepuja em valor o sustento, e o corpo excede em dignidade as vestes que o resguardam.
24Considerai, pois, os corvos, os quais não semeiam, nem ceifam; não possuem despensa, nem celeiro; e, contudo, Elohim os provê de sustento. [Sl 147.9] Quanto mais não valeis vós, em verdade, do que as aves!
25Qual de vós, ainda que atormentado pela angústia, haverá de conseguir adicionar um único côvado à sua estatura? [Sl 39.5]
26Uma vez que, se não podeis realizar nem mesmo as coisas de menor importância, por que vos inquietais com as restantes?
27Contemplai, ó vós que credes, os lírios do campo, como se desenvolvem em sua singela clemência; não trabalham, nem fiam; e, no entanto, afirmo-vos que nem mesmo Shelomoh, em toda a sua glória e esplendor, se revestiu de beleza semelhante à de um só dentre eles [1Rs 10.4-7].
28Se Elohim, em Sua excelsa providência, de tal modo adorna a vegetação, que hoje se eleva nos campos e amanhã é destinada ao forno, quanto mais não vos haverá de amparar, ó vós que tão pouca fé possuís? [Mt 6.30]
29Não procureis, ó vós que credes, aquilo que haveis de comer ou aquilo que haveis de beber, nem vos deixeis consumir por inquietações supérfluas.
30Porquanto, a todas estas coisas, os povos do mundo as buscam com ardor; vosso Pai, todavia, sabe que delas precisais.
31Procurai, pois, em primeiro lugar, o Reino de Deus, e todas estas coisas ser-vos-ão adicionadas. [Mt 6.33]
32Não temais, ó pequeno rebanho! [Is 41.14] Porquanto aprouve a vosso Pai outorgar-vos o reino.
33Vendei o que possuís e distribuí esmolas. Preparai para vós mesmos bolsas que não se desgastem; um tesouro nos céus que jamais se esgote, onde não se acercam ladrões, nem a traça corrói.
34Porquanto, onde se encontrar o vosso tesouro, aí estará, da mesma sorte, o vosso coração.
35Estejam cingidos os vossos lombos e acesas as vossas candeias [Ex 12.11], para que, na vigilância, vos acheis preparados, qual servos que aguardam o retorno de seu senhor.
36E sede vós, ó fiéis, semelhantes a varões que, com ânimo vigilante, aguardam o seu Adon, quando houver de retornar das bodas, a fim de que, ao chegar Ele e bater à porta, prontamente lhe seja franqueada a entrada.
37Bem-aventurados sejam aqueles servos a quem o Adon, ao retornar, houver de encontrar em vigília! Em verdade vos afirmo que ele se cingirá, fará com que se reclinem à mesa e, acercando-se, ser-vos-á servido por suas próprias mãos.
38Quer venha na segunda vigília, quer na terceira, bem-aventurados sereis vós, que assim fordes encontrados.
39Sabei, pois, vós que credes, esta verdade: se o senhor da casa houvesse sabido em que hora o ladrão havia de vir, vigiaria com toda a diligência e não consentiria que sua morada fosse profanada.
40Estejais vós, pois, igualmente aparelhados; que, na hora em que menos o esperardes, ser-vos-á presente o Filho do Homem [Is 7.14].
41Assim, pois, interrogou Kefa: Ó Mestre, a nós diriges esta parábola, ou a todos, de igual modo, se destina?
42Respondeu o Mestre: Quem será, pois, o mordomo fiel e prudente, a quem o Adon confiará a gestão de seus servos, para que, no tempo próprio, lhes ministre a provisão devida?
43Bem-aventurado seja aquele servo a quem seu adon, ao retornar, houver de encontrar obrando de tal guisa.
44Em verdade vos digo que o constituirá senhor sobre todos os seus haveres.
45Eis, porém, que se aquele servo, em seu coração, vier a pensar: "Tarda o meu senhor em retornar"; e, porventura, iniciar a maltratar os criados e as criadas, entregando-se ao comer, ao beber e à embriaguez, ser-vos-á manifesto que tal conduta é indigna e merecedora de repreensão.
46Eis que virá o Adon daquele servo em um dia em que não o espera, e em uma hora que lhe é desconhecida; e, apartando-o ao meio, destiná-lo-á à sua porção entre os infiéis.
47Ó vós que atentais às lições da justiça, ouvi: o servo que, tendo pleno conhecimento da vontade de seu adon, não se dispôs a cumpri-la, nem agiu conforme o desejo de seu senhor, ser-vos-á infligido severo castigo, com muitos açoites [Dt 25.2], como pena por sua desobediência.
48Eis, pois, o que se declara com gravidade e sabedoria: aquele que, por ignorância, não conheceu a verdade e perpetrou atos merecedores de repreensão, com poucos açoites será punido. Ao que muito se houver dado, muito se lhe exigirá; e àquele a quem muito se houver confiado, ainda mais se lhe demandará. [Lc 12.48]
49Eis que vim trazer fogo à terra [Jr 23.29]; e que mais almejo, se já se encontra inflamado?
50Eis que há uma imersão pela qual me cabe ser submergido; e quão grande é a angústia que me oprime até que se cumpra tal desígnio!
51Tomai cuidado, vós que credes, se pensais que vim trazer paz à terra. Não, afirmo-vos com solenidade, mas antes discórdia e separação [Mq 7.6].
52Doravante, numa morada, cinco almas se acharão divididas, três contra duas e duas contra três; [Mq 7.6]
53Serão divididos, em verdade, os laços de sangue e afeto: o pai contra o filho, e o filho contra o pai; a mãe contra a filha, e a filha contra a mãe; a sogra contra a nora, e a nora contra a sogra. [Mq 7.6] Assim, vós que credes, vede como se romperão as uniões mais sagradas, e preparai-vos para os tempos de discórdia que vos hão de sobrevir.
54Dizia, outrossim, às multidões: Quando vós, que sois vigilantes, avistais uma nuvem que se eleva do ocidente, logo exclamais: Eis que se aproxima a chuva; e assim, em verdade, acontece.
55E quando vós, que contemplais o soprar do vento sul, proclamais: "Haverá ardor"; e assim se cumpre o que foi dito.
56Hipócritas, vós, que sois versados em perscrutar os sinais da terra e dos céus, por que razão, pois, não conseguis discernir este tempo que ora se apresenta?
57E por que razão não julgais vós, com o vosso próprio discernimento, aquilo que se mostra justo?
58Quando vos encaminhardes, em companhia de vosso adversário, ao magistrado, empenhai-vos por alcançar a reconciliação com ele durante o trajeto, para que não suceda que ele vos conduza à presença do juiz, e este, por sua vez, vos entregue ao oficial de justiça, que, enfim, vos lance ao cárcere.
59Proclamo-vos, com a gravidade que a situação requer, que não vos será concedida a licença de abandonar aqueloutro lugar enquanto não houverdes cumprido a vossa obrigação até o último centavo que vos compete solver [Mt 5.26].